- Quando eu vou ter um irmãozinho?
A pergunta vinda da boca do menino de 5 anos, chegou tão frenética e impiedosa quanto um trem bala sem freios e maquinista. O som daquela pergunta acordou pai e mãe de seus rotineiros papéis de zumbis em frente à televisão. Acordou também o frango que o pai degustava e que agora prendia-se firme dentro de sua garganta:
- Cough! Cough!
- Amor, respira! - exclamou a mulher dando-lhe fortes tapas nas costas.
O momento em que o pedaço de frango foi cuspido para fora, foi a hora em que ambos ponderaram se não seria melhor ter deixado o homem morrer asfixiado. O menino, indiferente ao sufoco passado pelo pai, permanecia estático, à espera de uma resposta. Só manifestou-se quando acreditou ter passado tempo demais.
- Então? Quando vocês vão me dar um irmãozinho?
O tom avermelhado no rosto do pai em virtude da breve asfixia serviu para ocultar seu completo e total acanhamento com a pergunta. A mãe não teve a mesma sorte.
- Veja bem, Lucca... Na verdade, eu e seu pai... É que nós dois...
- Quando mamãe? - o garoto questionou interrompendo os devaneios da mãe.
O pai já antevendo sua posição de próxima vítima a ser interrogada, resolveu se antecipar abusando, claro, de sua intrínseca autoridade.
- Ora, Lucca, pára de atormentar com essas perguntas bobas e vai jogar seu vídeo-game!
E o garoto assim o fez, encerrando o assunto por aquela noite... mas só por aquela noite...
A partir daquele episódio, não se punha uma só tarde e não despontava um reles sol sem que ambos ouvissem o persistente questionamento vindo da boca do filho: "Quando vocês vão me dar um irmãozinho?"
Até que, finalmente, de forma consciente ou não, Paula engravidou. Ela e o marido, então, organizaram uma pequena festa em casa com direito a bolo, brigadeiro e todo o resto, só para revelar ao filho a grandíssima novidade.
E ele pulou! Como pulou de felicidade! Vibrava como o mais fiel torcedor ao som do gol do título. Correu, rolou, gritou... quebrou também... O vaso da mãe; mas ela nem ligou. Estava encantada ao assistir de camarote a emoção do filho.
Alguns meses depois, chegou o grande dia! E que dia! Plena e pura felicidade! Como não tinham pensado em ter outro filho antes? O casal ponderou durante inúmeras trocas de olhares e sorrisos. E chegou Lucca! E tudo ficou mais feliz, e alegre, e emotivo, e perfeito.
Algumas semanas depois, já em casa, a mãe aproveitou que seu recém-nascido estava dormindo e seguiu para um longo banho quente. Até que ouviu um barulho. "Deus do Céu! O que terá acontecido?" Quando chegou à sala, viu sua cristaleira caríssima esmigalhada em mil pedaços pelo chão e tapete. Perdeu a compostura:
- Quem foi que fez isso, Lucca? - ela perguntou quase em fúria.
Lucca apenas a pegou pela mão e caminhou em direção ao quarto do irmão. Lá, com um sorriso maroto presente somente naqueles que vêem seus mais sórdidos planos tomando forma, apontou para o berço onde o irmão dormia:
- Foi ele, mamãe! Eu vi tudinho!
2 comentários:
Muito bom!
Vi um exemplo desse, há poucos dias... e a carinha inocente impressiona!
Beijo!
MeninaMisteriosa
Conheço um exemplo real ainda mais intrigante:
A pequena garotinha de quase 2 anos acusou o irmãozinho de ter quebrado o vaso na casa da avó.
Detalhe : o irmãozinho ainda estava na barriga da mãe!!!
hehehe
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